Depressão e masculinidades
Windmöller, Naiara (2016). Construção das masculinidades em depressão: revisão de literatura e análise de casos. Dissertação de mestrado, Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília.
Diante da incipiência de pesquisas em saúde mental que levem em consideração o viés de gênero, a presente dissertação se propõe a discutir a “depressão masculina” seguindo os aportes teóricos dos estudos das masculinidades advindos dos movimentos e debates feministas.
Estudos de gênero afirmam que a ideia de potência, de virilidade está no cerne da dominação masculina.
E nesse sentido, os homens sofreriam, também, com esta dominação? E de que forma e por quais razões? A literatura tem feito a relação entre os fatores de risco e os fatores de proteção a saúde mental com as categorias analíticas de gênero e raça?
No que diz respeito à depressão, esta foi construída como categoria, no ocidente, ao longo dos séculos e tem sido abordada em larga medida pelos grandes manuais psiquiátricos (DSM E CID).
Diante de tais reflexões teóricas, o presente trabalho está constituído por dois artigos, os quais foram resultantes de duas etapas distintas da pesquisa.
O primeiro artigo resulta de um levantamento bibliográfico e de uma revisão sistemática sobre o referido tema em duas das principais plataformas científicas brasileiras, a saber: LILACS e SciELO Brasil, entre os anos de 2003 a 2013.
Foram encontrados na plataforma LILACS 1378 artigos e na base SciELO Brasil 386. Dentre os dezessete artigos analisados, enquadrados nos critérios de inclusão, a maioria foi de caráter epidemiológico e comparativo com as mulheres e foram quase inexistentes as pesquisas qualitativas com esse público.
Além disso, as categorias analíticas tais como gênero e raça foram em sua maioria, menosprezadas pelos/as pesquisadores/as.
Devido à inexistência de pesquisas qualitativas e que levassem em consideração as interseccionalidades referidas, o segundo artigo visou fomentar uma discussão sobre as masculinidades e a depressão, que ouvisse, então, as narrativas masculinas.
Diante desse propósito, foi realizada uma pesquisa qualitativa, em que foram ouvidas e analisadas três histórias de vida de homens diagnosticados com depressão (sem comorbidades), em um hospital público em uma capital brasileira.
Em todas as histórias narradas, percebe-se que falta a eles uma consciência de gênero no sentido de não percepção do sofrimento relacionado às normativas de gênero. Houve especificidades nos achados quanto à faixa etária e interseccionalidades de classe e raça.
Sobretudo, as queixas, em geral, se localizaram na esfera sexual e laborativa, seja pela falta do que não se pode ser/realizar no passado, marcada pelo pretérito imperfeito ou pela ruptura da idealização no presente. São afetos e vivências caracterizados pelo endurecimento do corpo e dos afetos, pela competição e comparação com outros homens, com tonalidades de culpa e fracasso.
Diante dessa pesquisa, portanto, sugere-se o investimento e o desenvolvimento de mais pesquisas que levem em consideração os aportes teóricos das masculinidades e que conversem com a psicologia clínica, e que por ora podem ser efetivas e úteis para as políticas públicas de saúde mental e de saúde do homem no Brasil. Ademais, que possam romper com a psicologização e a essencialização do “masculino”, ao considerar as contribuições dos estudos de gênero e das masculinidades.
Capítulo de livro da revisão de literatura:
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/PsicolEstud/article/view/31896
Artigo da análise de casos:
https://editoracrv.com.br/produtos/detalhes/33645-pluralidade-masculinabr-contribuicoes-para-pesquisa-em-saude-do-homem